quarta-feira, junho 22, 2005

Beija-me !!!! – e não se está a falar de Almodóvar

Uma platéia lotada e ansiosa....
De repente, ouve-se o terceiro e último sinal. E logo após, um corpo oferece os seus braços para serem atados, e assim sendo um emaranhado de cordas toma conta do palco.

Concebeu-se assim a ideia o "Correntes e a Liberdade sexual"

O acto é inspirado no "que fazes para além do que fazes?", prática sexual com cordas cujas técnicas foram estudadas, pelas impacientes personagens, para a elaboração e execução da performance. A técnica ensinada permite o controle do prazer, do movimento e até mesmo da dor.

A ideia é conceber uma metáfora do desejo, do fetiche, através do entrelaçar das cordas. As amarras têm o poder de prender e libertar e é a isso que o título se refere.

Anteriormente: "Ideia/ Revelação /Espaço/ Corpos/ Válvula tricúspide/ Incontinência/ Orgasmo/ Equilibrio / Ser criança"

Desta forma, movimentos delicados e violentos são intercalados e postos em sintonia com os efémeros sons do prazer "Uh! Ai, Ai, Ai, Ui! Ah! UUU! , que permeia todo o espetáculo com uma presença marcante.

O figurino traça o contorno dos corpos de forma a evidenciá-los, como numa grande simulação de actos sexuais e envolvimento amoroso.

"É impossível que estejam possessos"

No segundo acto, os laços do desejo são substituídos por uma caixa de alumínio, de cor vermelha nas arestas e com os lados transparentes, reproduzindo vitrines, onde prostitutas exibem as mamas, as pernas e tudo mais….para os eternos clientes em Amesterdão. Eles simbolizam o desejo não realizado, a pessoa que está ali, mas não pode ser alcançada.


"Apareceu apenas três vezes na História...
A primeira, em Ludón (França), no século XVI. Quase todas as freiras de um convento ficaram possuídas por uma multidão de diabos, que as atormentavam em orgias sem cessar. A segunda, foi nos anos 50, em itália numa virgem que se intitulava como Maria.

E agora, voltou a aparecer."

O clima de sedução continua e o lirismo, que se alterna com movimentos bruscos, também.

Na lateral, a pia de água benta com uma inscrição: "A água benta afasta a tentação do demónio".


Por fim o corte, o corte do cabelo, o corte no amaranhado de tudo aquilo que se é e daquilo que não se deve ser.

Toda essa combinação é finalizada com uma platéia aplaudindo de pé, "numa centrifugação de massas" num êxtase completo que parece corresponder à ansiedade inicial.

O culto a daimónion.